Michel Foucault, nascido na França no século XIX, é um filósofo muito próximo da contemporaneidade, pois estudou parte da política que hoje se vivencia. Sua corrente de pensamento é baseada nas ideias de Friedrich Nietzsche, o que explica o fato de ele buscar a genealogia de conceitos. Foucault pesquisa então a genealogia das instituições, que descobre ser o poder. A partir daí, desenvolve ideias de como o poder é exercido e também de como já o foi no cotidiano social.
Primeiramente, é importante explicar alguns princípios de Nietzsche para que o pensador em questão seja compreendido. Esse intelectual que lhe serviu de base defende uma avaliação sobre a vida e seus componentes fundamentada em uma pluralidade de valores. Para isso, utiliza como método a genealogia. Tudo isso vai em sentido contrário ao que até então era predominante: uma avaliação de acordo com o bem e o mal, originada por Descartes. Assim sendo, o pensamento nietzscheano acredita que a sociedade desfruta de valores desvalorados e que um super homem seria um que ultrapassasse essa moralidade, o bem e o mal, indo além da metafísica. Também complementa com a ideia de que todo homem tem vontade de verdade e vontade de potência.
Para Foucault, essa vontade de verdade é o saber e a vontade de potência é o poder. E é exatamente do exercício desse poder que surgem as instituições. Para descobrir essa genealogia, analisou algumas clínicas psiquiátricas.
Ao retomar as ideias de Hobbes, Foucault desenvolve a sua tese. Na sociedade que o contratualista expõe existe uma instituição máxima de poder, o Estado, que domina a massa e a deixa mansa por meio de uma relação vertical. No caso, entende-se que não há indivíduos dentro dessa massa.
O francês repensa essas ideias ao apresentar a rede microfísica do poder. Para ele, cada instituição (escola, igreja e família, por exemplo) exerce um micropoder sobre o indivíduo de forma eficiente, pois o fabrica. Esse poder é disciplinar e depende do tempo, do espaço, da vigilância e do saber. Todos esses micropoderes formam uma rede que torna mais fácil o controle do Estado. Portanto, os indivíduos serão disciplinados e dominados, mantendo assim a ordem , para que haja o progresso. Contudo, também é necessário lembrar que da mesma maneira que a dominação se exerce, os dominados também podem criar estretégias de resistência para driblar os mecanismos - já que não é possível saber se a mente do indivíduo também está “disciplinarizada”. Esse pensamento levou os anarquistas à estudá-lo posteriormente.
“O Panóptico” de Jeremy Bentham complementa a ideia de vigilância do poder disciplinar do autor. Os indivíduos estariam dispostos em um edifício que tem forma circular, com uma grande torre ao centro, onde estaria o vigilante. Cada pessoa ficaria em uma cela e seria observada pelo vigilante, que poderia vê-lo à todo momento. Já o prisioneiro não conseguiria perceber se realmente estava sendo observado ou não. Portanto, foi assim que os indivíduos introjetaram um comportamento servil. Na atualidade ele ainda pode ser encontrado, mesmo porque foi evidenciado a medida que as pessoas passaram a requisitá-lo - o que é demonstrado pela adoração à programas como o Big Brother Brasil ou até pela necessidade constante de câmeras de vigilância, de senhas ou até radares.
Com isso, Foucault reflete sobre a sociedade de controle em que vivemos, voltando-se para o conceito do biopoder, que é o poder que tem como intuito produzir a vida. O Estado passa, portanto, por uma inversão de valores, pois a partir do pensamento hobbesiano sua função seria “fazer morrer, deixar viver” e, ao contrário disso, Foucault acredita que com o biopoder há o “fazer viver, deixar morrer”. A grande questão para compreender essa mudança é que o Estado demonstra querer apenas produzir e manter a vida das pessoas que lhe são uteis, como consumidores e produtores. Portanto, deixa-se morrer os excluidos socio, economico e politicamente. Isso culminará no pensamento eugênico mais tarde, origem do nazismo. Fazer morrer alguns em prol do desenvolvimento de outros.
Assim sendo, o desenvolvimento das ideias desse autor permite que uma reflexão seja feita a respeito dos mecanismos de controle e de dominação do cotidiano social. Ao considerá-las, nota-se que o ser humano está sob dominação a todo o tempo - até mesmo no momento em que o individualismo e a liberdade triunfam. Percebe-se até que o indivíduo por si só sempre sofreu influência desses poderes externos para se formar. Apesar de tudo isso, há ainda espaço para a resistência na sociedade. Há ainda espaço para a criação de uma consciência autônoma, que não seja disciplinarizada e que não defenda uma medida higienizadora.